Escolas buscam novos meios de resolver
conflitos de forma não violenta e não punitiva.
Um aluno se aborrece e insulta seu colega. Vendo isso a professora manda
o autor da ofensa para sala do vice-diretor da escola, que o suspende por três
dias. Nós reclamamos sobre a grosseria, a falta de limites e os pais
irresponsáveis que criaram este menino, justificando a punição como o melhor
modo de fazê-lo assumir a responsabilidade por seu mau comportamento. Mas
responsabilidade? Como? A punição é passiva. O aluno não precisa fazer nada.
Ele continua chateado. Aliás, ele se vê como vítima. Ele não pensa como tem
prejudicado os outros ou como pode consertar as coisas. Pelo contrário, ela
volta à sala de aula sem ter resolvido nada.
Pensando nisto, especialistas da área de educação tem buscado outras
formas de lidar com essas situações. E um método que vem ganhando espaço nesse
debate é o Círculo Restaurativo – uma técnica de resolução não violenta de
conflitos.
Dominic Barter desenvolveu os Círculos Restaurativos, uma prática
específica de restauração, criada no Rio de Janeiro em meados dos anos 90 para
ajudar reduzir o nível de violência nas favelas. Depois de resultados de
sucesso, a abordagem começou a ser utilizada em várias situações.
“O Círculo Restaurativo coloca o aluno no centro da decisão, criando um
espaço seguro onde ele pode se expressar”, diz Jean Schmitz, conselheiro e
promotor dos direitos da criança do Instituto Latino Americano de Práticas
Restaurativas.
Segundo ele, esse modelo proativo e preventivo já mostrou ótimos
resultados em uma série de escolas em Lima no Peru. “Sempre dou o exemplo da
escola pública Ramon Espinosa, porque o sucesso foi realmente incrível. O
colégio é situado em um bairro muito violento, onde grande parte dos
adolescentes se torna criminosos. Mesmo assim, apenas alguns meses foram
suficientes para alunos e professores notar a diferença no ambiente de estudo”,
comenta.
No Brasil a técnica vem sendo experimentada em algumas escolas. Um estudo de caso, conduzido pela PUCPR, analisou o
efeito dos círculos em relação ao bullying em três escolas em Porto Alegre –
privada, municipal e estadual. Em todos os casos os resultados apresentaram
melhorias. “A gente fala sobre os nossos sentimentos, inclusive. E também, aí a
gente chega num acordo né? E resolvemos como vai ser daí em diante o
procedimento da criança dentro da sala de aula, como que ela vai se comprometer
a fazer as coisas dentro da sala de aula”, disse um aluno da 5ª série de uma
das escolas.
COMO FUNCIONA O CÍRCULO
Dentro das escolas, o método consiste de três passos e deve ser
realizado por dois profissionais capacitados.
Pré-Círculo
Receptor e autor são convidados a participarem de um encontro. Todos os
envolvidos devem querer participar por sua livre vontade, aceitando cumprir com
o que for exigido.
Círculo
Todos os participantes, incluindo
os coordenadores, o autor, o receptor e qualquer outra pessoa convidada por
estes discutem a questão em pauta. A ideia aqui é ajudar os alunos a expressar
suas opiniões. Toda solução vem dos estudantes. Portanto eles são responsáveis
pela retificação de seus atos.
Pós-Círculo
É a etapa final deste processo onde os envolvidos refletem sobre a
discussão que tiveram e colocam em prática as recomendações feitas por eles
mesmos.
ENTENDA A JUSTIÇA
Existem quatro práticas principais quando consideramos ofensores que são
menores de idade:
Punitiva: é o modelo tradicional, no qual o
culpado é “castigado” pelos seus atos.
Paternalística: reconhece a
responsabilidade do estado de proteger o jovem. Por isso, dentro desta prática,
ofensores são mandados para centros juvenis e não para cadeias comuns.
De reabilitação: vai além da
proteção, ensinando o adolescente a se responsabilizar pelas suas atitudes e
descobrir as suas habilidades para começar uma nova vida. Os críticos dizem que
o grande problema aqui é que a prática não leva em conta a vítima. Ela foca,
apenas, no ofensor.
Restaurativa: procura lidar com
os dois lados do conflito, buscando através de diálogos colaborativos,
estabelecer um novo começo para ambos os partidos. É nesta filosofia que os
círculos restaurativos têm suas raízes.
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